martes, 20 de octubre de 2015

O TRIÂNGULO PEDAGÓGICO de JEAN HOUSSAYE






     Conheci o professor Jean Houssaye em 2009, em Rouen. Ele foi meu co-orientador. Uma figura muito simpática, um professor calmo, de cabelo branco e rabo de cavalo. Já não era mocinho, mas parecia... Ele é um pesquisador conhecido na França, com muitos livros. O Brasil ainda não o descobriu, apesar dele ter muitas parcerias com a Universidade Estadual do Rio de Janeiro. Já tem trabalhos dele traduzidos no Brasil. Ele é professor de História da Educação e sua principal preocupação de pesquisa é a história da didática e das ideias pedagógicas.


    O autor tem uma coleção de livros sobre pedagogos e pedagogas do passado e do presente. Nestes livros, há artigos sobre  Paulo Freire e também sobre a Pedagogia do Movimento Sem Terra. Um livro é dedicado às Pedagogas na história. Ele também escrevu uma biografia do médico-pedagogo polonês, Janus Korczak. Seu principal livro se chama Le Triangle Pedagogique, que faço um (muito) pequeno resumo abaixo.

 O TRIÂNGULO PEDAGÓGICO:
O Triângulo Pedagógico é composto por três vértices ou pólos: O Conhecimento, o Professor e o Aluno. Ele modela esses elementos e determina o ato de ensinar. O autor também chama o seu sistema de triângulo didático. O Ato Pedagógico, é baseado numa relação triangular:
  • o saber;
  • o professor;
  • os alunos
Este triângulo, ao funcionar, coloca em relação três processos:
  • O ENSINAR, que está situado entre o professor e o saber;
  • O FORMAR, situado entre o professor e os alunos;
  • O APRENDER, situado entre os alunos e o saber

     
  • Na relação SABER-PROFESSOR, encontra-se o ensino, a didática, a gestão da informação. É o processo de ensinar. A "ensinagem"
  • Na relação PROFESSOR-ALUNO, encontra-se a educação, a formação.
  • Na relação ALUNO-SABER, encontra-se a aprendizagem, é o processo de aprender. A "aprendizagem"
  •  Nesta relação triangular, dois pontos são enfatizados em detrimento do terceiro que, negligenciado, toma o lugar de “louco no morto”…
     
1 - Quando o processo exacerbado é o Ensino, quem fica no morto são os estudantes.
 O professor e o conhecimento são privilegiados. 
O professor é o centro da estrutura educacional, com a organização e estruturação de cursos, 
os conteúdos ensinados. O método de ensino privilegiado é a tradicional palestra. 
O professor negligencia a relação com os alunos.
2- Quando o processo exacerbado é a Formação, quem joga o morto é o conhecimento. 
A relação professor-aluno é privilegiada em detrimento do conhecimento.
Quando esta relação é exagerada ocorre uma relação estreita entre professor e aluno. O método 
usado é o não-diretivo, onde o professor oferece mais conselhos e orientações do que ensina 
um conteúdo mais estruturado. Os estudantes geralmente gostam das habilidades interpessoais de seus
professores mas podem ocorrer dificuldades para a compreensão dos programas, conteúdos e cursos.
3- Quando o processo exacerbado é o Aprender- Lugar do morto é do Professor. 
Estudantes e conhecimento são privilegiados em detrimento do professor que limita a sua 
atividade na facilitação da aprendizagem dos alunos por si mesmos. O método de ensino privilegiado
é o construtivista: o aluno deve construir seu próprio conhecimento e não reproduzir o 
conhecimento ensinado. Estudantes podem até sentir uma sensação de solidão e se trabalha o
 auto didatismo, devendo o professor apenas orientá-los na sua aprendizagem.




    O primeiro processo, a relação professor-saber é o campo da Transposição didática. O segundo, é o da relação entre o professor e o aluno e está ligado às técnicas de ensino. O último processo é o da criação das estratégias dos próprios estudantes para aprender. Para o autor, cada um dos processos do triângulo é essencial para uma boa abordagem educativa e não deve ser praticado separadamente. A pedagogia tradicional privilegia muito a relação professor e saber e se esquece como o estudante aprende. Mas uma pedagogia que dá muita ênfase na construção pelo aluno, corre o risco de deixar de ver e aproveitar as boas mediações do professor.

A prática escolar não se reduz a um destes aspectos, mas sim nos relacionamentos binários e ternários que são possíveis entre eles. Se tomamos a Didática como porta de entrada do ensino, ou o Conhecimento, precisamos pensar que eles são apenas portas de entrada e não podem deixar em segundo plano os outros pólos. Uma suspensão temporária pode acontecer, como uma técnica, mas será sempre necessário pensar neste conjunto de elementos constitutivos para uma boa situação de educação.

   Fica aí um palpite pedagógico: conhecer um pouco o professor Jean Houssaye, suas preocupações com a didática e sua coleção de pedagogos e pedagogias...

 






jueves, 8 de octubre de 2015

Selva de Pedra-Fortaleza Noiada - O livro de outubro


  O livro que estou lendo em outubro chama-se Selva de Pedra- Fortaleza Noiada, de 2013, de autoria de Francisco José Pereira de Lima, mais conhecido como  Preto Zezé, presidente da CUFA - Central Única das Favelas. Quem me indicou este livro foi minha amiga, professora Janeslei Albuquerque
   O livro é um make-off de um documentário feito pelo Preto Zezé com usuários de crack em Fortaleza, Ceará. Para fazer o documentário, o autor entrevistou usuários e no livro estão transcritos estes depoimentos. O crack hoje é uma praga, que está espalhada por todo o Brasil e ainda avança Como abordar e resolver este problema é uma questão difícil. Como explica o autor: "Este livro não se propõe a ser uma receita de verdades, um cardápio de teorias explicativas do fenômeno dos danos sociais ocasionados pelo crack. Nosso desejo foi socializar a experiência vivida durante as gravações do documentário. O ativismo é nossa vida e, nesse livro, buscamos contribuir para uma discussão a partir de um olhar que vai além do simplismo na resolução desse complexo problema a partir da polarização entre mais polícia ou mais clínicas..."
   É forte, direto e triste Não vi ainda o documentário, só uma reportagem no youtube e já é possível sentir o clima e os terrores desta realidade.