Conheci o professor Jean Houssaye em 2009, em Rouen. Ele foi meu co-orientador. Uma figura muito simpática, um professor calmo, de cabelo branco e rabo de cavalo. Já não era mocinho, mas parecia... Ele é um pesquisador conhecido na França, com muitos livros. O Brasil ainda não o descobriu, apesar dele ter muitas parcerias com a Universidade Estadual do Rio de Janeiro. Já tem trabalhos dele traduzidos no Brasil. Ele é professor de História da Educação e sua principal preocupação de pesquisa é a história da didática e das ideias pedagógicas.
O autor tem uma coleção de livros sobre pedagogos e pedagogas do passado e do presente. Nestes livros, há artigos sobre Paulo Freire e também sobre a Pedagogia do Movimento Sem Terra. Um livro é dedicado às Pedagogas na história. Ele também escrevu uma biografia do médico-pedagogo polonês, Janus Korczak. Seu principal livro se chama Le Triangle Pedagogique, que faço um (muito) pequeno resumo abaixo.
O TRIÂNGULO PEDAGÓGICO:
O
Triângulo Pedagógico é composto por três vértices ou pólos: O
Conhecimento, o Professor e o Aluno. Ele modela esses elementos e
determina o ato de ensinar. O autor também chama o seu sistema de
triângulo didático. O Ato Pedagógico, é baseado numa relação triangular:
-
o saber;
-
o professor;
-
os alunos
Este triângulo, ao funcionar, coloca em relação
três processos:
-
O ENSINAR, que está situado entre o professor e o saber;
-
O FORMAR, situado entre o professor e os alunos;
-
O APRENDER, situado entre os alunos e o saber.
-
Na relação SABER-PROFESSOR, encontra-se o ensino, a didática, a gestão da informação. É o processo de ensinar. A "ensinagem"
-
Na relação PROFESSOR-ALUNO, encontra-se a educação, a formação.
-
Na relação ALUNO-SABER, encontra-se a aprendizagem, é o processo de aprender. A "aprendizagem"
-
Nesta relação triangular, dois pontos são enfatizados em detrimento do terceiro que, negligenciado, toma o lugar de “louco no morto”…
1 - Quando o processo exacerbado é o Ensino, quem fica no morto são os estudantes.
O professor e o conhecimento são privilegiados.
O professor é o centro da estrutura educacional, com a organização e estruturação de cursos,
os conteúdos ensinados. O método de ensino privilegiado é a tradicional palestra.
O professor negligencia a relação com os alunos.
2- Quando o processo exacerbado é a Formação, quem joga o morto é o conhecimento.
A relação professor-aluno é privilegiada em detrimento do conhecimento.
Quando esta relação é exagerada ocorre uma relação estreita entre professor e aluno. O método
usado é o não-diretivo, onde o professor oferece mais conselhos e orientações do que ensina
um conteúdo mais estruturado. Os estudantes geralmente gostam das habilidades interpessoais de seus
professores mas podem ocorrer dificuldades para a compreensão dos programas, conteúdos e cursos.
3- Quando o processo exacerbado é o Aprender- Lugar do morto é do Professor.
Estudantes e conhecimento são privilegiados em detrimento do professor que limita a sua
atividade na facilitação da aprendizagem dos alunos por si mesmos. O método de ensino privilegiado
é o construtivista: o aluno deve construir seu próprio conhecimento e não reproduzir o
conhecimento ensinado. Estudantes podem até sentir uma sensação de solidão e se trabalha o
auto didatismo, devendo o professor apenas orientá-los na sua aprendizagem.
A prática escolar não se reduz a um destes aspectos, mas sim nos relacionamentos binários e ternários que são possíveis entre eles. Se tomamos a Didática como porta de entrada do ensino, ou o Conhecimento, precisamos pensar que eles são apenas portas de entrada e não podem deixar em segundo plano os outros pólos. Uma suspensão temporária pode acontecer, como uma técnica, mas será sempre necessário pensar neste conjunto de elementos constitutivos para uma boa situação de educação.
Fica aí um palpite pedagógico: conhecer um pouco o professor Jean Houssaye, suas preocupações com a didática e sua coleção de pedagogos e pedagogias...






